sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O mundo todo é uma ilha


Que agora, lá fora,
O mundo todo é uma ilha
A milhas e milhas e milhas de qualquer lugar

“Nenhum homem é uma Ilha, um ser inteiro em si mesmo; todo homem é uma partícula do Continente, uma parte da terra. Se um Pequeno Torrão carregado pelo Mar deixa menor a Europa, como se todo um Promontório fosse, ou a Herdade de um amigo seu, ou até mesmo a sua própria, também a morte de um único homem me diminui, porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.”
JOHN DONNE

John Donne sugere que nenhum homem pode existir sozinho. Ele afirma que nós somos todos interligados, e que a perda de um ser humano é também a nossa perda. Nesse mesmo sentido, a morte de uma pessoa é a nossa própria morte, ou seja, cada vez que os sinos dobram, a humanidade perde algo precioso: uma vida, e, com ela, toda uma história. O som dos sinos é um lembrete de nossa própria mortalidade, de nossa própria fragilidade.
Numa época em que amigos não se veem mais, porque ninguém tem tempo para visitas, numa época em que as pessoas têm amizades e namoros virtuais, vivendo também uma realidade virtual e se afastando cada vez mais uma das outras, estamos perdendo o sentido do ser humano, de sermos humanos. Estamos nos afastando de nossa essência, que é eminentemente social. Estamos nos computadorizando, nos maquinizando. Nossas relações são frias, via e-mail. Numa mesma empresa, pessoas preferem enviar e-mails a falarem pessoalmente com seus colegas. O que é isso? Preguiça, comodismo, indiferença, individualismo? Não sei. Estamos perdendo a dimensão do humano: tudo é banal, tudo é aceitável. Tudo é aceitável? Não mesmo!
Adoro computadores, máquinas, tudo o que a tecnologia tem para oferecer. Mas isso não me afasta do convívio de meus amigos, de minhas filhas e de minha família. Por quê? Porque as pessoas são mais importantes que as coisas, que as máquinas. Nada substitui o calor humano do contato entre as pessoas. A vida ainda é o grande milagre, o grande mistério. Temos que vivê-la com vontade. Temos que mergulhar de cabeça em nossas relações. Temos que conviver com as pessoas. Temos que tentar entender o outro, e, assim, quem sabe entenderemos nós mesmos um pouco mais?
O homem do novo milênio precisa refletir sobre essas questões: ao se afastar das pessoas, ele se afasta de si mesmo. Ele fica sozinho. E ser solitário é terrível: a solidão consome, mata. Temos que ser solidários: a solidariedade aproxima, acolhe, humaniza. E esse é o perfil desejável do homem pós-moderno: não aquela criatura «clean», asséptica, distante, mas uma pessoa próxima, presente, que se envolve, que se compromete, que se vê no outro, que se conecta com o outro e entende suas dores, porque também as sente.

Texto de Sandra Kezen

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