quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Esperando que o tempo mude

Os discos
As danças
Os riscos da juventude
A cara limpa
A roupa suja
Esperando que o tempo mude

"Eu, como praticamente todo mundo, acompanhei a polêmica das mensagens de preconceito e xenofobia espalhadas no twitter após a divulgação do resultado das eleições presidenciais, por uma galerinha de vinte e poucos que, imagino, deve ter titica ou coisa que o valha em lugar de massa cinzenta. Acompanhei as discussões do acontecido pela blogosfera e os posts indignados, surpresos. Eu preciso dizer, não me surpreendi. Mais do mesmo, do vazio ideológico que a gente já sabe, já falei disso aqui, aqui e aqui, pra ficar só nas referências mais óbvias.
Mas entristecer, a gente sempre se entristece. Entristece de ver uma juventude tão emburrecida, tão mesquinha, tão individualista, que se acha o umbigo do mundo e nem ao menos sente um tantinho de vergonha, daquela que fazia corar os nossos avós, ao sair por aí cuspindo pequenezas e preconceitos, repetindo feito disco riscado os raciocínios racistas e tacanhos que lhes enfiaram na cabeça. Entristece de ver tanta miséria de alma, tanta avareza de sentimento, tanto egoísmo desenfreado, tanta imaturidade e feiúra. Entristece de ver essa gente jovem de idade mas velha, tão velha de alma, de coração enrugado e áspero, a perpetuar a espiral da violência, da agressão, do desrespeito. Entristece, porque é como dizia a canção: ser jovem deveria ser ter ‘a cara limpa e a roupa suja esperando que o tempo mude’, ao invés de um punhado de preconceitos burros – e existe preconceito inteligente? – e do celular de última geração enfiado no bolso de trás do jeans de marca, desbotado pela ditadura da moda. Entristece, porque quando se tem vinte e poucos, é tempo de se ver o mundo com idealismo e esperança, ao invés de cinismo e arrogância.  Entristece, porque o futuro se faz com gente, e a gente do futuro é essa que está aí, vendo o mundo de um jeito tão desdenhoso, ignorante, achando graça em diminuir o outro, em cultivar ilusões de superioridade e fazer piada do que deveria ser caso de polícia. Entristece, porque eu quero um mundo diferente pras minhas filhas, eu quero que elas pensem diferente. Não que pensem igual a mim, mas que pensem. Que tenham humanidade, respeito ao próximo, solidariedade, que tenham ideais, que acreditem em alguma coisa além do dinheirinho no banco, da balada do fim de semana e do carrinho zero na garagem. Deveria ser o básico, mas em tempos como esses, acaba sendo artigo de luxo. Enfim, entristece. E eu tô assim, meio triste, cabisbaixa e tateando no escuro para reencontrar minha esperança. Mas deixe estar, que eu reencontro. Porque eu posso não ter mais vinte e poucos, mas o coração que bate aqui dentro do peito é jovem, idealista e solidário, sempre. E isso é pra vida toda."

Texto de Renata Penna

Um comentário:

  1. oi Alê, fico contente que tenha gostado do texto, e pode compartilhar à vontade, só peço q coloque o texto entre aspas como é costume em citações de terceiros, e que cite o link do blog para que as pessoas saibam de onde foi retirado ok? (http://bichosoltoblog.wordpress.com)
    obrigada!
    beijo
    renata

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